terça-feira, novembro 19, 2002

João Luiz,
Sua avaliação foi uma das mais equilibradas q ouvi nas últimas semanas (a outra foi da Bel).

Mas psicopata ou apenas carente de senso de humor, la Richthofen deveria ter se dignado a permanecer na minha ignorância, não fossem seus (pretensos) atos criminosos e a insistência da imprensa em colocar seu nome e figura na minha cachola.

P/ mim, o q o caso revela sobre a sociedade, a família e a natureza humana resume-se a um retumbante nada. O ser humano é assim mesmo. Sempre haverá parricídios, matricídios e psicopatas, e sempre os houve. Se assim não fosse, não existiriam essas palavras. Mas se há algo q se possa aprender sobre o caso é q deveríamos lacrar nossos olhos e ouvidos ao bombardeio de imbecilidade q a imprensa desencadeia sobre o bom-senso do populacho e sobre o direito de ignorar o q se passa entre quatro paredes alheias. Ficar procurando cabelo em ovo é a ocupação principal da imprensa, única herdeira das fofoqueiras de antanho. Qdo leio o jornal ou ligo a tv, só quero um módico de informação, e não q me caia em cima uma catarata de psicólogos, sociólogos, criminalistas, pedantes, jornalistas, intrometidos, atrizes, garis e deputados c/ suas opiniões de segunda-mão baseadas em informações de ouvido.

Deve-se deixar q a polícia realize seu trabalho em paz. Recompense-se um ou outro agente da lei c/ uma aparição na tv, permitindo assim q seus entes queridos se orgulhem dele e façam bom uso do vídeo-cassete. Deve-se principalmente deixar q a justiça siga seu curso e faça o q tem q fazer, a saber, q siga o meio-termo entre respeitar os acusados e satisfazer a plebe ignara q exige sangue. A justiça não vai tomar as ‘confissões’ at face value, porque sabe-se q mesmo uma cofissão pode estar ocultando dados fundamentais. Antes q venham recepcionistas em hora de almoço gritar impropérios aos réus confessos e ameaçar linchá-los baseando-se no q as fofoqueiras profissionais apregoam pseudo-incontestavelmente, a polícia tem q verificar a veracidade e relevância das confissões. ¡Vá saber por que motivo confessaram! Talvez tenham mesmo feito tudo q disseram. Talvez sejam de uma seita cujos membros assumem responsabilidade por crimes alheios. Talvez tenham sido hipnotizados por Osama bin Laden. O fato é q ninguém, repito ninguém pode ter certeza. Cabe à polícia coletar provas de q a confissão se aproxima ou não da verdade. Cabe à justiça avaliar o significado dessas provas. E mesmo q realmente se conclua sem sombra de dúvida q os três dizem a verdade, ainda resta o problema do motivo. Talvez eles tenham tido excelentes motivos p/ fazer o q fizeram, motivos q qqer júri aprovaria; e talvez, por nobreza de espírito, estejam ocultando esses verdadeiros motivos do crime. Talvez o pai da moça fosse um pedófilo e incestuoso agente da CIA prestes a revelar um segredo de estado, e talvez os acusados estejam ocultando isso p / se proteger da CIA num presídio paulista. Talvez, talvez, talvez. É por todos esses ‘talvezes’, e milhares de outros mais plausíveis, q existe aí um sistema judiciário e penal acima da barbárie, um sistema q, em nome da justiça, não pode entregar os acusados às mãos de um povaréu treinado pela tv e jornais a não perguntar além do q lhes é dito. Não cabe à imprensa oportunista, aos jornalistas manipuladores de opiniões, aos especialistas sedentos de notoriedade, avaliar, comentar e julgar um fato q essencialmente não presenciaram, condenando assim à ignomínia três pessoas talvez culpadas, talvez inocentes, quase certamente em algum lugar entre as duas alternativas.

Talvez não pareça, mas estou pouco me lixando com o desenlace desse episódio. O q me enche o saco é testemunhar como um assunto totalmente banal, do qual nada se aproveita, ocupa espaço mental tanto em mim como nos outros. Recomendo a leitura dedicada de um ensaio de Henry D Thoreau intititulado Life Without Principle.

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