segunda-feira, janeiro 06, 2003

João Luiz,
Gostei dos comentários sobre os testes de QI. O q se segue é apenas um adendo ao q vc diz.

Dos vários q já fiz concluí q, apesar de muito bem bolados e por certo exaustivamente calibrados, esses testes medem pouco mais q a capacidade de fazer esses testes. O “pouco mais” é a pontinha do iceberg das capacidades fundamentais p/ viver eficientemente (!) num mundo circunscrito pelas benesses da ciência e tecnologia: agrupar, distinguir, seqüenciar, &c. O q eles medem tem menos a ver c/ inteligência q c/ a maneira como a civilização se organiza. Por exemplo, ao escolher entre cinco modelos de torradeira, vc compara as vantagens e desvantagens de cada modelo segundo informações precisas (incluindo a informação de q vc gosta ou não do estilo de cada um), e a decisão pela melhor compra depende da sua capacidade de manter objetos abstratos na mente por algum tempo e compará-los com outros sem se deixar levar por distrações tais como “este modelo está sujo” ou “este outro é igual àquele q caiu na cabeça do bebê da vizinha”.

Uma característica marcante da maneira como se organiza a civilização pode ser resumida numa fórmula do mundo natural: “O exterior denuncia o interior. Logo, o exterior pode ser usado p/ camuflar o interior.” Uma pontuação alta num teste de QI indica um boa resistência às engabelações comuns no mundo natural e civilizado, mas a capacidade do testado de viver eficientemente aparece apenas como uma possibilidade. Eu, q sempre obtive uma pontuação bem acima da média, me considero um perfeito babaca no quesito ‘eficiência ao viver’. Por exemplo, se estou escrevendo algo c/ um lápis na mão e me ocorre tomar um copo d’água, me levanto, vou tomar a água, e qdo volto a escrever descubro q inconscientemente deixei o lápis em algum lugar no meio do caminho e às vezes tardo em achá-lo de novo. Numa dessas horas, chamar-se-me-ia de inteligente? Os testes de QI apareceram qdo os significados da palavra ‘inteligência’ não haviam ainda sido questionados muito profundamente, c/ a conseqüência de q a expressão “quociente de inteligência” está mal aplicada qdo se refere a tais testes.

Isso fica claro qdo se nota q uma falha dos testes de QI é q utilizam questões de múltipla escolha onde apenas uma resposta é considerada correta. Isso indica claramente q não se trata de escolher uma alternativa segundo um critério inteligível e então justificar a escolha, mas de escolher a alternativa q se justifica segundo o critério mais provavelmente utilizado pelo examinador. Qdo consideramos outros critérios, vê-se, como vc demonstrou, q muitas vezes vários deles são possíveis. Os testes de QI, portanto, consideram q a capacidade de inferir o critério mais provavelmente utilizado pelo examinador é por si só uma evidência de inteligência (e talvez o único quesito em teste!).

Seguindo a idéia de tentar inferir o critério usado pelo examinador, e considerando q os enunciados contém um mínimo de subentendidos, minhas respostas às questões propostas são:

Os dois números q se seguem a 1, 2, 3, 5 e 7 são 10 e 13, pois
1+1=2
2+1=3
3+2=5
5+2=7
portanto,
7+3=10
10+3=13.

Se o examinador tivesse números primos em mente, provavelmente não teria pedido dois números, visto q apenas o 11 já indicaria q o testado inferiu a seqüência. Ao pedir dois números, o examinador parece indicar q a resposta só pode ser verificada c/ dois números. De qqer forma, esta não deveria ser uma questão aberta: deveria ser de múltipla escolha.

A resposta ao teste das palavras também está indicada no enunciado. Dado o grupo [queijo, manteiga, margarina, coalhada, iogurte], a palavra q não deveria estar no grupo (supostamente de ‘palavras’) é ‘queijo’: é a única q não tem encontro consonantal e a única c/ uma letra muda, o ‘u’ (o 'h' em 'coalhada' tem uma função fonética). O produto q não deveria estar no grupo (supostamente de ‘produtos’) também é ‘queijo’: é o único q não tem um produto similar no próprio grupo. A substância q não deveria estar no grupo (supostamente de ‘substâncias’) é ‘margarina’: é a única de origem vegetal.

Pela discrepância entre as suas respostas e as minhas, todas perfeitamente válidas, concluo q qto maior a complexidade do teste de QI tanto mais se testa apenas o próprio teste. No caso das duas questões acima, me parece q os enunciados têm q ser revistos.