sexta-feira, novembro 08, 2002

João Luiz,
Seu título "Democracia Privada", me trouxe à mente algumas questões q considero pendentes na 'democracia'. Sei q pouquíssimas pessoas compartilham minhas opiniões, mas isso não torna menos pendentes as questões a seguir.

Durante uma campanha eleitoral, sempre surge a curiosidade sobre qual candidato terá o voto do seu vizinho, amigo ou colega. Não faltou gente me perguntando em quem eu iria votar. Eu digo q não voto, já q não sou brasileiro. A pergunta q logo me fazem parece uma compulsão: "Mas se votasse, em quem votaria?" Minha resposta sai tão automaticamente qto "Serra, óbvio." ou "Lula, claro." Digo: "Votaria cegamente em qqer candidato de qqer partido q tivesse o poder de, e se propusesse a, acabar c/ a obrigatoriedade do voto, implantar eleições a cada 10 anos, proibir pesquisas e propaganda eleitorais e forçar a total transparência em todos os assuntos governamentais." Enquanto não houvesse um candidato assim, me recusaria terminantemente a chegar perto de uma urna eleitoral. Explico as 'reivindicações':

VOTO
Dir-se-ia q a 'festa da democracia' é benéfica p/ todos, e q portanto todos deveriam participar desse mutirão. Quem comprou essa lorota desconhece a diferença entre 'dever cívico' e 'civismo compulsório'. Não vou a festas onde se tocam músicas q detesto. Se não concordo c/ a parafernália eleitoral, ou mesmo se nenhum candidato me apetece, ¿por que cargas d'água teria eu q deslocar-me do remanso da minha vida privada apenas p/ anular meu voto? Em outros tempos, o voto obrigatório tinha um sentido preventivo. Exigia-se q todos os possíveis eleitores se apresentassem p/ q cada um, c/ sua presença de facto, evitasse q seu nome fosse usado por outra pessoa. O raciocínio tem uma certa lógica primitiva, mas impõe o ônus da checagem sobre o indivíduo, ao mesmo tempo q onera o estado (ou seja, o povo) c/ mais uma forma de identificação – fato q ironicamente denega a validade das outras formas de identificação instituídas pelo próprio governo. Voto facultativo, por favor.

MANDATO
Uma trégua eleitoral q dura apenas 2 anos é muito curta. C/ as eleições em outubro/novembro, o campanhismo começa já em fevereiro e termina em janeiro do ano seguinte. Isso quer dizer q a cada 24 meses, os políticos passam 12 discutindo os prós e os contras, fazendo alianças e xingando-se mutuamente: os q estão no governo não governam e os q não estão no governo não deixam o povo cuidar da vida em paz. Ou seja, as eleições se tornaram um meio-de-vida p/ políticos, marqueteiros e afins, e uma perda de tempo compulsória p/ o povo em geral. Uma encheção de saco institucionalizada q dificulta a realização efetiva de qqer obra, de qqer discussão produtiva, de qqer coisa boa q algum político possa tornar realidade. Além disso, o mandato de 4 anos não é realista. As idéias precisam de tempo p/ firmar raiz e dar frutos. É uma imbecilidade achar q esta ou aquela ideologia funciona melhor qdo não se lhe dá tempo a nenhuma. Eleições a cada 10 anos, please.

PROPAGANDA
A propaganda eleitoral é a junção do cúmulo da mentira deslavada c/ o cúmulo da improdutividade onerosa. Uma pessoa paga milhões a uma equipe p/ deliberadamente e à vista de todos enrolar o eleitorado c/ imagens cuja utilidade primordial não é atrair o olhar mas desviá-lo. Ao mencionar detalhes de sua estratégia, o Lula tornou pública a desfaçatez manipulativa q vigora por trás de qqer campanha, por mais idealista. Não há como escapar da metáfora: um candidato está vendendo um peixe morto q pouca gente tem nariz p/ chegar perto; maquiá-lo e perfumá-lo tornam-se a principal atividade na vida de qqer político. Por isso, tome cartazes, tome slogans, tome horário gratuito, tome desperdício, tome encheção de saco. Sem propaganda, s'il vous plaît.

PESQUISAS
De pesquisa eleitoral nem vou falar. É claro e evidente p/ qqer pessoa medianamente racional q a divulgação de pesquisas eleitorais mascara a realidade e força situações falsas q do contrário não se veriam.

TRANSPARÊNCIA
Governo sem transparência tem o mesmo efeito q uma ditadura sobre uma massa escrava. ¿¡¿Exige-se q o indivíduo seja bombardeado por poluições visuais, sonoras e morais, q a cada 2 anos desvie a atenção de seus assuntos e interesses pessoais, q dê satisfações ao estado sobre sua existência e paradeiro, p/ q durante 4 anos um grupo de energúmenos ambiciosos e sanguessugas espertos negociem a portas fechadas a partilha dos bens adquiridos eleitoralmente?!? Sorry, não quero participar disso. Qdo me chamam de alienado, respondo q muito pelo contrário, alienado é quem se interessa por política: não há nada mais distante da vida real do q prestar atenção nos movimentos sórdidos de uma classe mercenária, improdutiva e falastrona. A pior coisa q se pode fazer a um político é não prestar atenção nele, e é isso q faço. O pior ainda é bom demais p/ eles.

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