quarta-feira, outubro 09, 2002

João Luiz,
Essa do Planck foi um dos meus traumas. Morava eu em Tbt, e trabalhava de empregado do meu próprio pai como servente de pedreiro contruíndo a casa na qual iríamos morar. Às vezes me metia a cimentar umas fileiras de tijolos. Numa dessas vezes, vendo os tijolos vindos de um canto se encontrando c/ os q vinham do outro, fiquei meditando sobre esse paradoxo do sapo (de autoria de um grego, não?), q eu havia lido num livro de curiosidades matemáticas. Fazendo uma associação c/ o zero graus Kelvin, cheguei à conclusão de q deveria haver uma coisa a q chamei de "número fundamental", do qual todos os outros números seriam apenas múltiplos. Alguns anos mais tarde, lendo um livro de física, descobri q já tinha havido esse Planck filho da puta q tinha tido a mesma idéia quase um século antes. Como se não bastasse eu ser pobre, tímido e ignorante, ainda tinha q agüentar a pecha de falta de originalidade. Foi mais ou menos nessa época q, lendo "Rosencrantz and Guildenstern are Dead", deparei-me c/ a frase "Don't clap too loudly. This is a very old world.", e tive a oportunidade de mandar mais um filho da puta à puta q o pariu, por me jogar na cara o estigma de ser não mais que um observador inerte das grandes conquistas dos outros.

Agora já estou mais conformado. Os anos foram passando, e me lembrei de uma vez qdo ainda morava SJC e fui a um bicicleteiro p/ mandar soldar um quadro de bicicleta. Enquanto fazia o serviço pelo qual seria regiamente pago, o desgraçado do bicicleteiro, q era pouco mais de um troglodita semi-letrado, teve a desfaçatez, a propósito de não me lembro o quê, de incoscientemente enunciar em seu português de roça uma lei de Lavoisier seguida de uma de Cavendish passando por algumas considerações qto ao destino último da matéria. A lembrança desse episódio me fez entender q minha idéia do "número fundamental" não passava de uma reverberação de algum zeitgeist; ou seja, q além de minha idéia não ser original, era incompleta, derivativa e mal-enunciada. Foi aí q o conselho do Dr Pangloss ("il faut cultiver notre jardin") caiu na minha cabeça como um tijolo mal colocado por um servente de pedreiro q deveria estar misturando a argamassa em vez de cimentar tijolos.

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