quinta-feira, julho 25, 2002

João Luiz,
Mas esse Abraão foi uma anta, hem? P/ mim não existe dilema nenhum na situação de dele. Se o deus q o mandou matar o filho era realmente o DEUS, onimaiúsculo e todo-poderoso, aquele q criou tudo, inclusive o décimo-primeiro átomo do milésimo-segundo bronquíolo à esquerda de quem entra no pulmão de Abraão, o mesmo Deus q criou a lógica, a justiça e a hermenêutica, e ainda por cima criou o próprio filho de Abraão, e esse Deus ordena q Abraão mate o filho, Abraão não deveria nem ter pestanejado: faca no moleque.

Mas no mundo real, não o das suposições, essas coisas não acontecem. O fato de q Abraão did blink é um indício da imperfeição deste mundo. Sua hesitação safou o deus q encomendou o assassinato de provar q ele (ou Ele) era realmente o Deus. Se me aparece um deus na frente ordenando q eu mate alguém, a primeira coisa q faço é exigir credenciais; se as credenciais me convencem de q o ente exigente pode realmente ser o Deus, a próxima coisa q exijo são explicações: por que, depois de criar tudo, agora vem com essa encomenda de uma coisa q Ele poderia fazer sem o menor esforço? Give me the big picture, and i'll do it. Mas isso é porque eu estou no mundo real, e não naquele dos contos, lendas e fábulas.

P/ mim o defeito moral central da pergunta cafajeste do programa não é o fato de oferecerem apenas respostas criminosas, mas o fato de confrontarem as emoções individuais contra a responsabilidade coletiva num reductio ad absurdum. Por trás da pergunta cafajeste há sempre um a-ha! à espreita: um a-ha q pretende ser parte de um silogismo, mas é baseado numa interpretação burra e unilateral da realidade. Burra porque não reconhece q esse tipo de situação não acontece no mundo real, e só pode ser imaginada, como no dilema de Abraão ou no meu thought experiment da alavanca: SEMPRE haverá uma forma de se chegar ao paradeiro do moleque q não inclua a tortura de um suspeito. Unilateral porque pretende ser parte de uma argumentação q por si só já é ad hoc: "Não aprovo tortura, mas pô, trata-se do meu filho." Se vc aprova a tortura de um suspeito p/ obter a informação do paradeiro de seu filho, tb vai ter q aprovar a tortura de qualquer 'suspeito' p/ obter a informação do paradeiro de um bastardo desconhecido qqer, já q se um suspeito não desembucha, não há como saber o valor da informação q ele talvez venha a desembuchar. And by 'any' suspect, i mean any suspect, inclusive o próprio pai num dia de azar em q alguma suspeita do mesmo tipo recaia sobre ele. O bom-senso na responsabilidade coletiva exige q não se torture ninguém em hipótese alguma, e o pai de qqer filho seqüestrado tem q submeter-se à lei, do mesmo modo q o seqüestrador. Invocar uma argumentação ad hoc per se soa não só desonesto, mas (como vc colocou muito bem) cafajeste.

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